24 de outubro de 2007

A leitura em alunos com Trissomia 21

A maior parte das nossas escolas utiliza como método de iniciação à leitura o método sintético, conhecido por muitos como o famoso bê-a-bá. Este método, consiste essencialmente na aprendizagem isolada das letras, com as quais o aluno deverá formar sílabas, palavras e frases. Apesar de ser bastante utilizado nas nossas escolas, não podemos deixar de realçar que este método revela-se, por vezes, inadequado para algumas crianças, especialmente para aquelas que apresentam algum atraso no seu desenvolvimento, podendo o mesmo decorrer de uma deficiência, uma problemática não especificada ou simplesmente de alguma imaturidade por parte da criança. Sendo a criança um ser essencialmente global, que apreende em primeiro lugar o todo e só depois a parte, este método torna-se extremamente exigente. A aprendizagem isolada da letra, por não apresentar qualquer lógica para a criança, pode tornar-se uma tarefa difícil e bastante penosa, colocando, muitas vezes, o aluno em situação de insucesso escolar, logo no primeiro ano de escolaridade. Que método de leitura utilizar, então, com crianças com Trissomia 21? Em primeiro lugar convém relembrar que a aprendizagem da leitura implica, a aquisição, por parte de qualquer criança, de alguns requisitos prévios, nomeadamente:
  • possuir um nível de linguagem mínimo
  • ter alguma capacidade de atenção, indispensável para receber informação oral e visual
  • apresentar percepção visual desenvolvida
  • apresentar alguma percepção auditiva

Relativamente às crianças com Trissomia 21 não podemos esquecer algumas características específicas desta problemática que não podemos deixar de ter em conta, quando escolhemos o método de leitura que iremos utilizar. De uma maneira geral, a grande maioria das crianças com T21 apresentam dificuldades a nível da discriminação auditiva, sendo os estímulos visuais mais importantes que os auditivos. Apresentam, por norma, um atraso na área da linguagem expressiva, nomeadamente a nível da articulação, vocabulário e conhecimento das regras gramaticais e sintácticas. Apresentam um desenvolvimento cognitivo inferior às crianças da sua idade, que as impedem de aderir, de forma satisfatória, a actividades que exijam capacidade de abstracção.

Pelos motivos expostos, o método usualmente utilizado nas nossas escolas não parece ser o mais indicado para estas crianças, sobretudo, por exigir uma capacidade de abstracção elevada e um bom desenvolvimento a nível da discriminação auditiva. Por outro lado, o facto de possuírem melhores competências a nível da percepção visual, torna-as mais aptas e receptivas à utilização de métodos mais globalizantes. Assim sendo, o método global ou o método das vinte e oito palavras apresentam-se como mais indicados para alunos com esta problemática, uma vez que possibilitam uma leitura mais funcional e compreensiva.

A aderência, por parte de alguns docentes, à utilização de um outro método nem sempre é pacífica e fácil. Existe, por vezes, alguma resistência, por parte dos docentes em experimentarem outro método diferente. A relutância em aderirem a um novo método é justificada, muitas vezes pelo receio de enveredarem por um caminho desconhecido, onde se sentem inseguros, abandonando um método que dominam bem e que consideram bom. Outro motivo, que leva à rejeição de um método diferente, prende-se com o facto de não existir no mercado uma grande oferta de manuais destinados à aplicação do método das vinte e oito palavras ou mesmo do método global. Acresce ainda o facto de os docentes saberem, que o manual por si só é insuficiente para que a criança com Trissomia 21 aprenda a ler. O professor necessita de muito mais material para além do manual. Necessita de um número considerável de imagens, bastantes palavras móveis, um silabário manipulável e um número razoável de fichas que ajudem a criança a consolidar de forma sequencial e consistente as suas aprendizagens.

Tal como acontece com outras problemáticas, ensinar uma criança com Trissomia 21 a ler, exige do professor uma grande disponibilidade e dedicação. Exige confiança. Em si e nas capacidades do seu aluno. Exige tempo. Bastante tempo para preparar material específico. Exige criatividade para inovar, diversificar as actividades e manter vivo o interesse da criança. Esta criança poderá precisar de um pouco mais de tempo do que as outras. Mas o sucesso é possível!

Neste pequeno vídeo, é possível ver uma criança com Trissomia 21 a ler e o tipo de material utilizado pela sua professora.http://br.youtube.com/watch?v=t4dCNuOUSoo

Um livro interessante e prático que pode ajudar bastante todos aqueles que pretendem desenvolver competências de leitura em crianças com Trissomia 21 (Colecção Necessidades Educativas Especiais, Porto Editora)

23 de outubro de 2007

ANDARILHOS

Inicio hoje uma nova caminhada.
Criar este blog, não foi propriamente uma decisão minha, mas a vida é mesmo assim. Por vezes, dão-nos um empurrão e somos forçados a caminhar. Meti-me por uma estrada, para mim, desconhecida. Apesar de saber que é percorrida, há muito tempo, por muita gente... Às vezes até vou espreitar os caminhos por onde os outros andam. Vamos ver onde este me vai levar... Porquê o nome de andarilhos para este blog? Entre outras definições, andarilho é aquele que é andadeiro, que anda muito, que leva cartas ou notícias... Mas andarilho pode também ser uma ajuda técnica, necessária para pessoas portadoras de Paralisia Cerebral, por exemplo...
A escolha do nome (propositadamente, no plural) no fundo já tem subjacente o principal objectivo deste blog. Tendo o dicionário definido andarilho como alguém que anda muito, leva cartas ou notícias, pareceu-me um nome adequado para o meu blog. Mas se andarilho é também um objecto que permite ajudar algumas pessoas a andar, então, andarilho é mesmo um bom nome para este blog. Caminhantes, todos nós somos. Ao longo da nossa caminhada, aparecem sempre alguns obstáculos e percursos que se tornam penosos! Muitas vezes, nem sequer temos a certeza que o caminho é aquele! Nessas alturas, tornamo-nos caminhantes errantes, cansados, desorientados. Andadores a precisarem de ajuda. Andarilhos a precisarem de andarilho. Enquanto caminhante espero com este blog tornar-me um andarilho para alguns, quer levando notícias, quer proporcionando ajuda. Espero, no entanto, cruzar-me com outros viajantes que se tornem para mim andarilhos, caminhantes que queiram falar das suas viagens, do que viram, sentiram, descobriram...
Como professora de Educação Especial tenho, muitas vezes, dúvidas sobre que caminho seguir em relação aos meus alunos. Escolher um destino, traçar um itinerário, pode até ser fácil. O difícil é escolher a melhor estrada. Aprendi com o tempo que em Educação Especial, a maior parte das vezes, os caminhos não são fáceis, nem curtos. E contrariamente ao que diz o provérbio, nem todos vão dar a Roma. Contudo, todas as pessoas, professores, alunos e pais, têm a sua caminhada a fazer e precisam de diferentes e diversificadas ajudas. Muitos desanimam perante os obstáculos. Outros não sabem, ou não acreditam que é possível chegar mais longe. Para alguns, pequenos passos tornam-se grandes vitórias.
Gostaria, através deste blog, de trocar ideias com pessoas que vivam, convivam ou trabalhem com pessoas com Necessidades Educativas Especiais. Gostaria de partilhar experiências na área da Educação Especial, que podem ir desde estratégias utilizadas com os alunos, divulgação de software e material didáctico específico para determinadas problemáticas ou até mesmo partilha de material pedagógico... Neste blog, todo aquele que o desejar poderá: SER ANDARILHO.